23 junho 2017

O que vejo por aí... #3

Como era, como é



— É minha neta. Ela fica aqui quando vem de São Paulo. Não tem mais a mãe, tadinha. Vem com o marido e o menino. Viu só como ele fica naquele negócio ali? Fica assistindo desenho, jogando. Já falei pra ela que criança tem que brincar na rua, se sujar de terra, andar descalço. Fica enfiado dentro de apartamento, vai ficar doente.

— Vai ficar que nem essas crianças pálidas, doentes.

— Pois é. O menino nem conversa, fica grudado naquele... tabret?

— E suas outras filhas?

— A Meire mudou agora pra um apartamento. Mas é muito pequeno, pra mim não dá. Não tem quintal, não dá pra criar os bichos nem conversar com os outros na rua. Muito apertado. Isso não é vida não. Parece uma caixinha de fósforo.

— É, não dá mesmo.

— A Neiva tá morando em Campinas, numa casa num condomínio. É grande lá, parece uma floresta numas partes. Mas também não dá pra conhecer ninguém. As pessoas chegam dentro do carro, saem dentro do carro. Não, isso não é vida. Pra mim não dá, não. Mas e seu irmão, tá trabalhando?

— Não, aposentou. Só que tá ficando meio louco, tá sem coisa pra fazer em casa.

— É, trabalhar é bom. Sinto falta de trabalhar, de ver gente. Mas é ruim ficar dentro de cada, né? Ainda mais pra homem. Mulher ainda tem o que fazer dentro de casa, homem não, não é?

— É mesmo. Bão era quando a gente morava no sítio. Trabalhava na roça, morava por lá mesmo. Não tinha perigo. E ainda tinha com quem conversar.

— Sim, hoje em dia, ninguém conhece ninguém. Bão mesmo era naquela época, não é?

— É sim.

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